3 de dez. de 2011

Alan Moore vs Frank Miller, a batalha começa!


Como todo mundo já sabe, uma onda de protestos contra o capitalismo teve início no mundo inteiro, conhecido como o movimento "ocupe". Apesar de sua insignificância, a mídia faz questão de dar destaque e supervalorizar a importância deste movimento. Os manifestantes ocupam espaços públicos e muitos deles utilizam as máscaras do personagem V, da HQ V de Vingança, de Alan Moore, que eles conhecem através da adaptação cinematográfica.

Como já apontei aqui, qualquer um pode fazer o uso que quiser dessas máscaras, elas já eram utilizadas por anarquistas há mais de 15 anos e hoje seu uso é indiscriminado.

Uma polêmica incendiou a rede quando Frank Miller decidiu se pronunciar sobre o movimento "Ocupe", segundo ele, aquilo não passa de uma manifestação de desocupados, perdedores e vagabundos, que deveriam ir para a guerra contra a Al Qaeda. Miller foi grosseiro, mas estava correto em muitos pontos.

Em seguida, Alan Moore pronunciou sua alegria com estes protestos, principalmente porque eles fazem referência a sua criação. Seu ego ficou inflado e ele nem levou em consideração que a razão disso é a existência do filme V de Vingança, que ele tanto odeia, produzido por uma corporação capitalista, a Warner, que ele odeia mais ainda. Alan Moore foi hipócrita.

No entanto, todos esperavam que Moore comentasse a posição de Miller, o que ele fez agora, em uma nova entrevista, concedida ao site Honest Publishing. Moore deixou claro que sua visão de mundo é completamente oposta a de Frank Miller, leia a declaração:

Com relação ao movimento Ocupe, parece que você e Frank Miller tem opiniões conflitantes. Você diria que ele é contra e você é a favor?

"Bem, Frank Miller é alguém cujo trabalho eu mal olhei nos últimos 20 anos. Eu achei que Sin City era misoginia antiquada, 300 parecia não ter nenhum embasamento histórico, era homofóbico e completamente equivocado. Eu acho que há uma sensibilidade desagradável aparente no trabalho de Frank Miller já há um bom tempo. Mas desde que não tenho mais relações com a indústria de quadrinhos, eu não tenho mais nada a ver com as pessoas do ramo.

Eu ouvi falar de seus recentes desabafos acerca do movimento Ocupe. Eu esperava algo assim da parte dele. Sempre achei que se você tivesse de localizar politicamente a maioria dos profissionais de quadrinhos, você os definiria como sendo de centro-direita. Isso seria o mais á esquerda que eles poderiam chegar. Eu nunca estive em qualquer posição, nem mesmo sei se sou de centro-esquerda. Sempre fui sincero com relação a isso desde o início de minha carreira.

Então acho que seria justo dizer que Frank Miller e eu temos pontos de vista diametralmente opostos sobre todos os tipos de coisas, e com certeza sobre o movimento Ocupe."

"Até onde posso ver, o movimento Ocupe parte de pessoas comuns que estão reinvidicando direitos que sempre deveriam ter sido delas. Não consigo ver razão nenhuma para que se espere que nós, enquanto povo, devessemos ficar parados e apenas observar uma bruta redução da qualidade de vida, nossa e de nossos filhos, talvez por gerações, enquanto as pessoas que nos meteram nessa foram recompesadas por isso; com certeza elas não foram punidas de maneira alguma, porque são grandes demais para errar.

Eu acho que o movimento Ocupe é, em certo sentido, o público dizendo que eles deveriam ser quem decide quem é grande demais pra errar. É um grito de indignação moral completamente justificado e parece ser conduzido de uma maneira muito inteligente, não violenta, o que provavelmente seria uma outra razão pela qual Frank Miller estaria tão incomodado com isso.

Tenho certeza de que se fosse um monte de jovens vigilantes sociopatas com maquiagem de Batman em seus rostos, ele seria a favor. Nós definitivamente teriamos de concordar em discordar sobre isso."


Além disso, Moore deu sua opinião sobre a atual situação do mundo e propôs a solução para todos os problemas. Como sempre, ele se acha demais da conta! Porém sobre Frank Miller e o Ocupe foi só isso aí, uma porrada na cara. Não vou falar minha opinião porque todo mundo que leu o que já escrevi aqui já sabe o que penso.

Só digo algumas coisinhas sobre as opiniões dele acerca das obras de Miller: neste caso o barbudão está completamente equivocado! Sua visão politicamente limpinha de dizer que Sin City era misógino é a coisa mais tosca que já ouvi. E os milhões de estupros que ele põe em suas obras, não seria misoginia também? E as mulheres que apanham do fascista Comediante e continuam apaixonadas por ele? Isso não é misógino?

300 seria "homofóbico"? Por que, senhor Alan Moore? Representar todos os super-heróis de Watchmen como decadentes homosexuais reprimidos também não seria homofóbico? Para os padrões de vigilância de pensamento de hoje, em que não se pode representar gays de forma negativa de maneira alguma, eu acho que seria! Falta embasamento histórico? Por acaso há apenas uma abordagem daquele período histórico? Os textos clássicos mostram Esparta como uma sociedade patriarcal, como toda a Grécia antiga, onde as mulheres não tinham direito a nada, tanto que os homens até faziam sexo entre sí, por considerarem as mulheres indignas até mesmo disso. Os filósofos tinham vários conceitos de amor, o que incluia a pedofilia homosexual. Eles transavam com seus discípulos. Mas tudo isso passa longe de um modelo para o mundo moderno. Se fosse um exemplo, então deveriamos incluir a escravidão, e a própria pedofilia?

Com relação a oposição entre os dois maiores ícones dos quadrinhos dos anos 80, ela sempre foi clara. É uma pena, pois sempre sonhei ver uma graphic novel escrita por Moore e desenhada por Miller. Mas isto nunca vai acontecer. Resta-nos acompanhar este debate, que com certeza ainda vai longe. Frank Miller deve responder em breve, chamando Moore de hippie-sujo-vagabundo agente da Al Qaeda, acompanhe!


...

9 Comentários:

Housyemberg Amorim disse...

Cara,

Belo post. Mas o Moore está correto em afirmar que Miller errou no embasamento histórico com relação a 300... Até porque a pederastia era algo muito mais complexo do que segregação entre sexos. Não vou me estender, mas quanto a Sin City e sua comparação com Watchmen, bato palmas.

Etson disse...

Acho que quando o Moore fala da homofobia em 300, ele está se referindo a algumas falas do Leônidas, quando se refere aos atenienses. Quanto às falhas no embasamento histórico, fala sério: que obra não é?

O que eu acho é que temos que ler os dois preparados para o que eles tem a dizer: são opiniões políticas bem explícitas e diametralmente opostas. O Moore é um anarquista maluco, e o Frank Miller é um republicano reacionário. Ponto. Leia sem julgamentos, ou então escolha um e xingue o outro.

Vinícius da Silva disse...

As opiniões de ambos(Moore e Miller) apenas revela que a vontade de aparecer não conhece limites, e que ideologias sem conhecimento e dedicação verdadeira apenas geram acusações de ambos os lados e mais desinformação.

Tarcisio Marques disse...

Moore é hipócrita por achar que a máscara é em função de sua HQ sendo haja vista que deve ser do filme - nunca vi nada legitimando uma coisa ou outra - e Miller está com ciuminho por não ser máscara de um Robocop ou de um Batman. Ah... desde que façam boas histórias...

calazans disse...

Desde o Monstro do Pântano que o INGLÊS Moore diz claramente seu engajamento ecológico e libertário-liberal-esquerdista, já o NORTE-AMERICANO Miller fez uma releitura de um Batman idoso fascistóide, depois imitou MOEBIUS com RONIN, fez uns jogos de sombras em SINCITY e cometeu 300 que é no mínimo uma ofensa a história em todos os sentidos e uma quase total ausência de pesquisa ( o máximo foi DARIO COM PIERCINGS - estas argolas eram de escravos e se de ouro soldados ROMANOS muitos séculos para quem os encontrasse pegasse o único brinco e os enterrasse com duas moedas para caronte)ignorante e pretencioso e de direita, a questão é clara, MOORE alinha-se com ideias municipalistas humanistas CONFEDERATIVAS Thoureau -Tolstoi- Partido Verde de Petra Kelly e MILLER alinha-se no extremo oposto com a ideologia oposta de um Estado forte como o de Licurgo (olhem Esparta, as crianças pertencem ao Estado- compare com a Juventude hitlerista!)Hitler e Mussolini tinham. É o conflito esquerda-direita desde arevolução francesa assim chamado.

calazans disse...

Desde o Monstro do Pântano que o INGLÊS Moore diz claramente seu engajamento ecológico e libertário-liberal-esquerdista, já o NORTE-AMERICANO Miller fez uma releitura de um Batman idoso fascistóide, depois imitou MOEBIUS com RONIN, fez uns jogos de sombras em SINCITY e cometeu 300 que é no mínimo uma ofensa a história em todos os sentidos e uma quase total ausência de pesquisa ( o máximo foi DARIO COM PIERCINGS - estas argolas eram de escravos e se de ouro soldados ROMANOS muitos séculos para quem os encontrasse pegasse o único brinco e os enterrasse com duas moedas para caronte)ignorante e pretencioso e de direita, a questão é clara, MOORE alinha-se com ideias municipalistas humanistas CONFEDERATIVAS Thoureau -Tolstoi- Partido Verde de Petra Kelly e MILLER alinha-se no extremo oposto com a ideologia oposta de um Estado forte como o de Licurgo (olhem Esparta, as crianças pertencem ao Estado- compare com a Juventude hitlerista!)Hitler e Mussolini tinham. É o conflito esquerda-direita desde arevolução francesa assim chamado.

calazans disse...

Moore é um INGLES e grande roteirista,eco-ativista e anarquista, Miller é NORTE-AMERICANO conservador de Direita que defende a Guerra para "LIBERTAR" os povos que tem petróleo, ou o Vietnan etc...a questão é a ideologia que os dois representam. Dois polos OPOSTOS, e 300 é ignorante e sem pesquisa como via de regra os americanos fazem, visitando Europa como se fosse o Hawai como quem vai ao zoologico rir da cultura dos outros e representar brasileiros de SOMBRERO fazendo SIESTA e falando mexicano, pelo menos o Moore lê antes de escrever algo, olha DO INFERNO, aquilo é pesquisa! Agora leia sobre Esparta e re-leia com uma enciclopédia o 300, chega a ser cartoom de humor de tão ridículo, acho que até tem rinocerontes ou elefantes séculos antes do cartagines Hanibal (não Hanibal Lecter, o outro um general que sitiou Roma).

Tavares disse...

Tem algumas coisas que eu discordo de você Calazans. Em 300, Miller criou uma fantasia, ele pode não ter pesquisado, mas em nenhu momento ele tentou fazer uma abordagem histórica.

Do Inferno também é uma fantasia, e nao tem tanta pesquisa assim, 90% do texto é baseado no livro The Brotherhood, de Stephen Knight. Moore é muito verborrágico e nos dá a impressão de grande cultura, mas a questão é que ele sabe lidar com palavras. Falo isso com plena certeza porque conheço o livro.

Já com relação a posição política de Moore e Miller, você também comete um equivoco. Nominalmente, pelo entendimento que se tem da dicotomia esquerda x direita, sabe-se que esquerdistas são a favor do intervencionismo estatal e direitistas são a favor do estado mínimo.

Há um erro de compreensão quando se chama um direitista, pelo menos um direitista americano, como Miller, de fascista, tendo em vista que o fascismo foi criado por Mussolini e era totalitário, ou seja, um estado total, como ele dizia "tudo no estado, nada fora do estado".

Deborah disse...

pois é politica e quadrinhos não deveriam se misturar...

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